In the end

          In the end, I’m just waiting for the other shoe to drop. All the damn time.

          Tenho uma certa imaginação. E bastantes desejos por concretizar (e vontade de o fazer). Se tivesse uma grande paciência e capacidade de lidar com a frustração, poderia ter desenhado ou escrito, ou algo entre os dois, a minha vida ideal – todas as coisas que desejo experienciar, lugares para visitar, pessoas a conhecer. Um diário do meu eu futuro. Mas não sou muito disso. De imaginar sim, e de tentar ter planos e desenhos bonitos do futuro. Mas estes não se tornam realidade, ou melhor, é muito difícil tornarem-se realidade. E eu não tenho paciência para acompanhar ou terminar planos de grande duração.
          Sou uma pessoa bastante normativa no que diz respeito aos meus desejos. Mas por outro lado temos o meu perfecionismo e a máxima que guia a minha vida (e com máxima não estou a falar de frase poética inspiradora, estou antes a falar de uma das principais bases motivadoras do meu comportamento): “eu não sou suficiente”.
          Quando alguém, ou algo, te reforça essa ideia, mesmo que sem querer, indiretamente, ou sem intenção, sabes que a tua vida vai ser um pesadelo nos próximos tempos (com duração variável de acordo com a importância da pessoa, momento, expectativa e importância atribuída), porque por muito que a tua cabeça te diga vezes sem conta que não és suficientemente boa, tu tentas combater para bem da tua sanidade mental. Além de que é duas vezes mais doloroso ouvir isto de outras pessoas. É como levares um murro no estômago. É como te cortarem com um espada e te abrirem o peito. Porque, de repente, viste os teus piores medos confirmados: de que as pessoas sabem quem tu és, como tu és verdadeiramente, sabem que não pertences ali, que não és perfeita, que és uma fraude.
Então vivo neste medo permanente, de que algo que faça ou diga seja uma pista para as pessoas à minha volta de que não sou competente o suficiente, de que tenho a cabeça num nó e sou esquisita quando se trata de relações pessoas e de vulnerabilidade.
          Vivo neste medo permanente de que as pessoas me vejam por aquilo que eu penso ser a verdade sobre mim – que eu sou uma fraude e não mereço estar onde estou, que existe sempre alguém melhor do que eu, e que, bem, eu não sou suficientemente boa.
          A vida torna-se um pesadelo porque te sentes um cão aos círculos, atrás da própria cauda, a reviver cada momento, em busca de erros, de momentos em que fizeste algo de errado, disseste algo que não devias, não te mostraste boa o suficiente.
          A vida torna-se um pesadelo porque tens mil hipóteses do que fizeste mal, e sentes-te perseguida pelos teus possíveis erros. E começas a questionar o que fazes no teu dia-a-dia, nos outros contextos, com as outras pessoas da tua vida.
          A vida torna-se um pesadelo porque tens medo de mostrar a tua verdadeira face, de te tornares novamente vulnerável, com medo de que tenha sido aí, quando confiaste e confiaste que os outros te aceitariam, que eles tenham visto erro ou falha ou insuficiência. Tens medo de esperar nos outros e de criar esperanças porque tens aquela voz na cabeça, na qual tu acreditas com todo o teu ser (mesmo quando não queres), que te diz que no final não vais conseguir o que queres, que no final as pessoas não te vão querer, que nos final as pessoas irão encontrar alguém melhor.
          A vida torna-se um pesadelo porque te começas a questionar porque tentas, porque começas a questionar se vale a pena tentar. Já que estarás segura e não serás rejeitada se não te expuseres. Porque doerá muito menos quando te rejeitarem ou criticarem se não tiveres aberto o coração, se não tiveres criado expectativas, se não tiveres ligada a ninguém.
          A vida torna-se um pesadelo porque sentes que por muito que tentes, as pessoas te vão magoar e vão encontrar algo melhor. Porque eu não sou boa o suficiente para alguém tentar, para alguém me querer.
          E o pior de tudo é que eu acredito em tudo que acabei de escrever.

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