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A mostrar mensagens de abril, 2017

Será que sou assim tão incapaz?

Por vezes, ao retomar um trabalho, um projeto, um documento, sinto aquela sensação de desespero, de que nunca nada que farei ficará bom. De que nada será bom o suficiente. De que não sou capaz de fazer aquilo. Sou incapaz, mesmo. Sinto desespero porque quero e tenho de acabar o trabalho. E sinto-me com medo, agoniada e com um desejo de fugir. Sinto-o no meu estômago, que se contrai durante tanto tempo que deixa de ser algo anormal. Contrai-se, e faz-me curvar como se sentisse necessidade de o proteger. A dor, a agonia sobe pelo peito até à garganta, seca, que pica e torna difícil engolir. Até à boca seca e aos maxilares rígidos que se empurram um ao outro inconscientemente, como se me quisessem impedir de falar, de gritar a dor. O meu pescoço mantém-se rigidamente na mesma posição durante horas, como se mantendo o pescoço parado pudesse manter a cabeça no lugar, a receber oxigénio, e me convencesse de que tudo iria ficar bem. Os meus ombros ficam enrolados em si mesmos, tentando co

Controlo

Tenho medo de me perder. No meio de tantas distrações, de tantas experiências por explorar, de tantas tentações normalizadas e recorrentes. Tenho medo de perder o que de mais simples, básico e central há um mim. Medo de perder a minha realidade, de apanhar um carrossel e nunca mais conseguir sair. E continuar a girar e a girar, esquecendo que existe um mundo para além da fantasia colorida e excitante. Tenho medo de esquecer quem sou, no meio de tantas vivências e de passagem dos anos. Cada coisa que trago nova e aprendo tem o potencial de apagar uma parte essencial de mim, o meu eu. Cada nova cedência ao mundo, ao mundano, é uma porta aberta a tudo o que há de mais escuro no mundo, a tudo o que me roubará a simplicidade do amor, da partilha, do perdão. Mas não é fechando-nos em nós que se ganha ou cresce. Não é fugindo do que nos causa medo que nos deixa intocados. Nem devemos permanecer intocados, mas transformar-nos a cada dia e cada vez mais. Devemos deixar o medo de lado, abri

Ficção?

Quando escrevemos mostramos a nossa realidade, o nosso ponto de vista. Escrever ficção pode ser ainda mais enriquecedor: escrevemos uma realidade alterada, ou uma forma diferente de olhar e perceber a realidade. "Os raios do sol dirigiam-se, sem de desviarem, para mim. Atraídos como um íman, ou como se eu fosse a estrela solista em palco. E o calor abraçava-me a relaxava-me mais que mil abraços. Tão intrusivos e sujos eram os abraços dos outros! Eu caminhava de queixo levantado, olhos em busca de uma novidade, de um detalhe que me tivesse escapado, de uma beleza momentânea revelada só para mim. A minha postura descontraída, os meus olhos nunca encontravam os dos outros. Sentia-me uma deusa que não se dignava a olhar para os humanos na terra, seus inferiores. As conversas eram filtradas, criando uma rede protetora à minha volta, mas com os cheiros não tinha esse poder, por isso o meu nariz podia ser observado a franzir com frequência. Maldita cidade! Malditas pessoas! Não havia

Pequenas vozes no fundo da mente

Já alguma vez se sentiram assim? Já alguma vez sentiram um medo tão grande que vos faz encolher, literalmente, tentar ser o mais pequenos possíveis, o mais invisíveis, o mais rápidos? Aquele momento em que o coração bate tão depressa, tão apertado e tão perto da garganta que sentem que vão sufocar. Aquele momento em que todos os sons são ameaças potenciais, são prenúncio de que, desta vez vai correr mal. Já alguma vez sentiram medo de uma pessoa que vem atrás de vocês na rua? De uma pessoa que, por coincidência, vai na mesma direção que vocês, mas que, naquele momento e infelizmente, tem em si tudo o que de mal existe no mundo? Já alguma vez, ao andarem na rua, numa noite quente de verão, sentiram necessidade de ter o telemóvel na mão, só para se tranquilizarem, só para se lembrarem que a polícia ou alguém que vos ajude está a uma chamada de distância? As pessoas à vossa volta podem ser as melhores do mundo, mas naquela noite em que estão sozinhos, todas são monstros em potencial.